Desvio
De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho
Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo
Quase Nada - Zeca Baleiro
De você sei quase nada
Em dias assim não me salvo nem sou boa companhia. Gosto de saber que os amigos estão longe, que os inimigos não me encontram, e que nem uns nem outros me virão reclamar as provas da amizade e do ódio que são a moeda do nosso comércio. E se alguma coisa desejo realmente nestas ocasiões, é encontrar as palavras mínimas, brevíssimas, as onomatopeias, se possível, que me expliquem o mundo desde o começo.
Cheiro de café, uma pitangueira na janela do quarto, vinte e um degraus, um armário triangular, gavetas que guardavam segredos, livros, uma sacada na esquina atrás de um pinheiro que não caiu, quatro quartos interligados, o chapeleiro no qual nunca vi um chapéu, um armário de chapéus, doce de natal, velas no pinheiro, muitas gavetas, um exemplar de "Da Liberdade" com um tíquete de bonde esquecido dentro, mais livros, um baleiro sempre cheio, uma caixa d'água no quintal, copos de cristal coloridos, uma mesa de um metro quadrado exato, quatro senhoras, depois três, cadeiras na calçada, um banco verde, um jogo de chá inglês, várias pessoas em torno de uma mesa na varanda de uma casa que não existe mais.