lunedì, maggio 31, 2004

Incoerência

Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão. O que nos propomos em dado momento, mudamos em seguida e voltamos atrás, e tudo não passa de oscilação e inconstância. Não vamos, somos levados como objetos que flutuam, ora devagar, ora com violência, segundo o vento.
Cada dia nova fantasia, e movem-se as nossas paixões de acordo com o tempo.
Não somente o vento dos acontecimentos me agita conforme o rumo de onde vem, como eu mesmo me agito e perturbo em conseqüência da instabilidade da posição em que esteja. Quem se examina de perto raramente se vê duas vezes no mesmo estado. Dou à minha alma ora um aspecto, ora outro, segundo o lado para o qual me volto. Se falo de mim de diversas maneiras é porque me olho de diferentes modos. Todas as contradições em mim se deparam, no fundo como na forma. Envergonhado, insolente, casto, libidinoso, tagarela, taciturno, trabalhador, requintado, engenhoso, tolo, aborrecido, complacente, mentiroso, sincero, sábio, ignorante, liberal e avarento, e pródigo, assim me vejo de acordo com cada mudança que se opera em mim. E quem quer que se estude atentamente reconhecerá igualmente em si, e até em seu julgamento, essa mesma volubilidade, essa mesma discordância. Não posso aplicar a mim um juízo completo, sólido, sem confusão nem mistura, nem o exprimir com uma só palavra. “Distingo” é o termo mais encontradiço em meu raciocínio.


Michel de Montaigne

mercoledì, maggio 12, 2004

O lugarejo e suas pontes

Até o momento persiste o mesmo desejo, encontrar um novo lugar. Não há nada de errado com o que me encontro agora, fora a sua estabilidade, estável demais para alguém tão instável.
Há pouco tempo, numa outra viagem, passei por um lugarejo que me agradou, era cortado por um rio, havia várias pontes, a maioria delas em construção, o que me surpreendeu, pois aquele lugar não parecia novo. Suas construções eram sólidas, antigas, havia várias bibliotecas, livrarias e se ouvia música em toda parte. O lugar parecia adaptado a mim, então peguei minha mochila e fui até lá. Ao chegar as palavras ditas me confortaram, me levaram a crer que eu havia finalmente encontrado o que procurava há tempos. Mas ao andar pelo lugarejo, vasculhar suas vielas, vi diversos cartazes e as palavras escritas foram duras. Só então percebi porque as pontes estavam em construção.
Por teimosia ou ingenuidade, ainda visito esse lugarejo com uma certa freqüência, vejo como estão suas pontes, pois sei que quando as obras cessarem e entrarem na fase de eterno acabamento, haverá mais coerência entre as palavras ditas e as escritas e as pessoas que lá conseguirem chegar, serão felizes.
Sei, também, que com o tempo, vou parar de visitá-lo, vou superar a incoerência e seguir, totalmente só, a minha viagem.

lunedì, maggio 10, 2004

Tarde de Outono

A minha viagem começa numa tarde de outono em pleno inverno de Porto Alegre, sem céu londrino, sem chuva, apenas um sol que teima em nos resgatar.